segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Dica de livro: "Vida Dupla", de Rajaa Alsanea

Na Arábia Saudita de hoje, uma jovem conquista fãs e inimigos ao enviar, anonimamente, e-mails semanais a um grupo de discussões da internet, contando as aventuras e desventuras de quatro amigas, Sadeem, Michelle, Gamrah e Lamees. As mensagens, bastante ousadas para os padrões árabes, relatam a história de quatro lindas garotas, pertencentes à elite saudita, que se vêem às voltas com um tema muito presente em suas vidas - e quase um tabu no mundo islâmico: o amor. Apaixonadas, elas sofrem seguidas desilusões, devidamente compartilhadas e discutidas na intimidade da casa de Um Nuwayyir, espécie de segunda mãe e protetora das quatro.

Gamrah, a única do grupo que não completou os estudos universitários, é proveniente de uma família ultra-conservadora e está presa a um casamento com Rashid, um marido frio e que não a ama, abandonando-a grávida. Michelle, a mais descolada do grupo, não tem medo de expressar suas idéias contrárias às tradições e não liga para a opinião daquela sociedade, mas se decepciona ao descobrir que Faisal, seu namorado e grande paixão, revela ser incapaz de enfrentar a família por ela. Sadeem também acaba vítima das tradições islâmicas quando seu noivo, Waleed, pede o divórcio, em sinal de reprovação por ela ter se entregado a ele antes da festa de casamento. A inteligente e independente estudante de Medicina Lamees, por sua vez, sofre represálias ao se envolver com um colega de residência xiita e se recusar em casar-se cedo.

As quatro belas sauditas retratadas em Vida dupla, assim como qualquer outra jovem, são atraídas pela liberdade, por festas, paqueras, por rapazes bonitos e pelos assuntos do coração. No entanto, a elas não é permitido aproveitar a juventude da forma como gostariam, pois vivem em um país onde a mulher tem uma vida extremamente limitada e nenhum direito de escolher o homem que ama para se casar. Vivendo em meio a um paradoxo de tradição e modernidade, elas são moças que usam jeans e decotes por baixo das vestes tradicionais árabes, cantam e dançam livremente quando estão sozinhas, comemoram o Dia dos Namorados e o Ramadan, ficam divididas entre a família e o grande amor.

Sobre a autora

Rajaa Alsanea nasceu em Riade, capital da Arábia Saudita, em uma família de médicos. Vida dupla, seu primeiro romance, foi publicado em 2005 em seu país natal, quando a autora tinha vinte e três anos, e rendeu inúmeros elogios, críticas, polêmicas e até ameaças de morte à autora. O livro também já foi publicado em outros 12 países.

Rajaa Alsanea
Ed. Nova Fronteira

Como saber se você está em um restaurante chique

Não basta procurar pessoas de narizes empinados, aparentando ser da alta sociedade: existe uma série de sinais práticos aos quais se deve atentar para descobrir se você está em um restaurante “chique”.

O primeiro deles é o cardápio. Poucos itens figurarão nele. Muito poucos. No máximo quatro páginas – isso incluindo entradas, pratos principais e sobremesas. E os pratos? Eles terão nomes em francês, ingredientes e acompanhamentos esdrúxulos. Quando seu pedido chegar à mesa, é batata - ou melhor, pommes - para combinar com o clima que eu descrevo: vai vir num prato imenso, muito bonito e enfeitado, com folhas, flores, o que a imaginação do cozinheiro (desculpa! Chef!) mandar. O tamanho do prato será inversamente proporcional à quantidade de comida. Ela vem em tão pouca quantidade que você imagina se o maitre te achou gordo e resolveu dar um toque no cozinheiro.

Não existe a possibilidade de você receber um prato bagunçado, com os ingredientes misturados. O arroz, a batata, cada um vem no seu cantinho e são milimetricamente dispostos no prato. Sabe aquele arroz arrumado em forma de potinho? Então. A princípio, dá até pena de comer tal obra de arte, mas depois das cinco únicas garfadas necessárias, você fica com pena é do seu bolso, que vai pagar um preço gigante pela comida liliputiana que você pediu.

Além da comida e do cardápio, você pode ter certeza de que está em um autêntico restaurante chique se o lugar for um silêncio sepulcral. As pessoas falam pouco, e baixinho. O barulho mais comum é o dos talheres e copos – e, mesmo assim, muito discretamente, porque fazer barulho comendo é falta de educação.

Rock: uma história de diversidade

Ele já foi chamado de barulho, de absurdo. Já foi considerado indigno de moças e rapazes “de família”. Já foi palco de movimentos sociais, culturais. Levou a fama de meio de experimentação de drogas. Influenciou a moda, os costumes, as mentalidades. O rock, desde seu surgimento, na década de cinqüenta, é sinônimo de terremoto cultural e continua a angariar fãs e seguidores fiéis, se renovando a cada sub-estilo.

O que dizer de um estilo que comporta variações tão diferentes quanto o punk, o indie, o grunge, o hard rock, o rock clássico, o gótico, o heavy metal, o metal melódico, o power metal, o black metal, o thrash metal, e mil outras? O rock é um dos gêneros musicais que mais se desdobrou em sub-estilos e o que mais se revelou imortal. Ele representou e continua representando rebeldia, liberdade de expressão, contestação de padrões, quebra de tabus, e - taí uma palavrinha que a gente pode usar pra definir o espírito do rock: atitude.

A atitude, de fato, permeia o rock. Quando ele surgiu, nos anos cinqüenta, bebendo na fonte do blues e da música negra, foi considerado música indecente. Pode parecer incrível para os padrões de hoje, mas gente como Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard deixavam nossos avós de cabelo em pé – imagina que eles consideravam o modo de dançar, de cantar e as roupas desses pesos pesados como algo indecente? Era a revolução do rock. Nos anos sessenta, foi a vez de nomes como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan e Beach Boys surgirem e enlouquecerem multidões.

A década seguinte, os anos setenta, foi marcada pela presença forte das guitarras, que começaram a ter um som pesado e com distorção. Foi uma das décadas mais frutíferas do rock, e uma das que mais influenciariam bandas de hard rock e heavy metal anos mais tarde. Era o auge de bandas como Led Zeppelin, Deep Purple, Pink Floyd, Genesis, Rainbow, Queen, Black Sabbath e o guitar hero Jimi Hendrix, além de uma infinidade de outras. No final dos setenta e também durante os oitenta, surge o punk, que defendia liberdade, anarquia e contestação tanto em sua música quanto na sociedade, com Sex Pistols, Ramones, The Clash, The Stooges como principais representantes. O som punk tinha pouca preocupação com a estrutura formal da música e mais com a transmissão de idéias de liberdade e mudança.

Os anos oitenta também foram significativos para dois estilos em particular: o heavy metal e o hard rock. Bandas de metal como Iron Maiden, Judas Priest, Ozzy Osbourne, Motörhead, Metallica e Megadeth, de som pesado e enérgico, dividiram espaço com bandas de hard rock – ou, como algumas pessoas preferem chamar, glam rock –, aquele das roupas coloridas e coladas e os cabelões, com bandas como Kiss, Whitesnake, Scorpions, Van Halen, Poison, Heart, Guns ‘n’ Roses, Aerosmith marcando a cena. Os anos noventa testemunharam o nascimento do grunge, estilo originário de Seattle, nos Estados Unidos, a explosão do rock britânico, e, principalmente, a democratização do rock.

Em pleno 2007, olhando para trás, a gente pode ver como o rock já estabeleceu definitivamente sua capacidade de ser eclético. O rock é tão rico e cheio de diversidade que certamente eu me esqueci de mencionar algum nome ou estilo importante! Mas o que toda essa galera de camisa preta tem em comum até hoje é algo que não se pode tirar do rock: a liberdade de expressão e a vontade irresistível de sacudir a cabeça ao som da banda preferida. É o rock “na veia”. E por falar nisso, qual é o estilo de rock que corre na SUA veia?

Oásis verde do Cosme Velho completa 62 anos

Um dos edifícios mais charmosos e tradicionais da Zona Sul carioca está completando 62 anos em 2007. Situado entre um prédio comercial e uma casa de leilões, quase no número onde a Rua das Laranjeiras se transforma em Rua Cosme Velho, está o Condomínio do Edifício Águas Férreas. O prédio, que tem sua beleza reconhecida e tombada pelo Patrimônio Cultural estadual, desperta a curiosidade e os olhares de pedestres e motoristas que por ali passam.

Não há quem more nas redondezas e nunca tenha ouvido falar do número 550 da Rua das Laranjeiras. Mais do que isso: não há quem nunca tenha passado em frente a ele e dado, no mínimo, uma boa olhada para a entrada do prédio, que mais parece uma floresta. A entrada recuada e muito arborizada, que garante a tranqüilidade e o silêncio aos moradores, é seu maior charme – e desperta a maior atenção. Carolina Lopes, aluna do ensino médio do Colégio Sion, a alguns metros do edifício, passa todos os dias pelo edifício e nunca resiste a dar uma olhadinha jardim adentro: “Esse prédio é lindo demais com essas árvores todas. Deve ser muito bom dormir com esse fresquinho, essa paz” - suspira, encantada.

O Águas Férreas tem história. De estrutura e modelo arquitetônico clássicos, o prédio possui amplos apartamentos com o pé direito alto e colunas em estilo grego, o que lhe confere uma beleza antiga. O edifício foi projetado pelo arquiteto Mário Marcelino Pinto e erguido em 1939 pela construtora FLCampos, sob a responsabilidade do engenheiro já falecido Luiz Campos. A inauguração do prédio levou seis anos, devido à dificuldade em importar material de construção, já que aquele era o período da Segunda Guerra Mundial. Antes de o edifício ser construído, o terreno era ocupado pela residência da tradicional família Ottoni, tendo sido substituído então, numa área de 8.800 metros quadrados, pelo prédio de 15 andares, entre os quais se distribuem 78 apartamentos de tamanhos que variam de 144 a 170 metros quadrados.

O belo edifício já teve como moradores diversos políticos, governadores, médicos famosos, artistas e todo tipo de gente importante. Também já serviu de cenário para novelas – “As filhas da mãe”, da Rede Globo, teve algumas cenas rodadas lá – e presenciou diversos acidentes de carro em sua calçada. A segurança é, inclusive, um dos assuntos mais discutidos nas reuniões do Condomínio atualmente. Como a entrada do prédio não possui portão ou qualquer outro tipo de proteção, muitos moradores acham que o Águas Férreas está exposto demais a assaltos e roubos. O aposentado Roberto Coutinho, morador há mais de 30 anos e condômino de participação ativa nos assuntos do edifício, pondera: “Estamos discutindo a colocação de uma guarita ou um portão na entrada do prédio. Apesar dele ter sido vítima de pouquíssimos assaltos até hoje, não podemos subestimar o risco que estamos correndo hoje em dia, com a violência correndo solta”.

Vulnerabilidades à parte, o sexagenário Águas Férreas continua enchendo os olhos de quem passa pelo endereço – e contando com a fidelidade incondicional de quem mora num oásis verde no meio da selva de pedra. A moradora Jurema Gouvêa bate o martelo: “Não há apartamento na beira-mar que pague a tranqüilidade desse lugar aqui. Não o troco por nada”.

Um estouro de profissão

Já pensou em trabalhar fazendo e vendendo pipocas? Pois Josué Gregori da Silva, de 55 anos, há quase 30 trabalha exercendo esse ofício. Instalado com seu carrinho de pipocas junto ao portão principal da PUC do Rio de Janeiro, ele bate ponto de segunda a sexta, sempre a partir das três da tarde.

Seu Josué trabalha nas cercanias da PUC desde 1974 e é figura carimbada da universidade. Além de pipocas, ele já vendeu amendoim e teve uma carrocinha de cachorro quente da extinta empresa Geneal. Mas os produtos não tiveram a mesma resposta da pipoca e, diante disso, ele seguiu vendendo a guloseima preferida dos cinemas.

Senhor humilde e simples, seu Josué mora na Rocinha há três anos. Ele nasceu em Pernambuco, e em 1972 veio para o Rio, se instalando na Baixada Fluminense. Deixou para trás a família que tinha em terras pernambucanas. O Rio de Janeiro o encantou a ponto de não ter vontade nenhuma de voltar à terra natal. “A minha terra é onde estou me dando bem”, diz, com toda a propriedade de quem enfrentou condições precárias de vida em solo nordestino.

De fato, ele tem se dado bem no Rio. A família que ele formou aqui, composta por sua mulher e os filhos de oito, dez e doze anos, é beneficiada pelo Cheque Cidadão. Por ter seus três filhos estudando em situação regular em colégio estadual, seu Josué conseguiu um auxílio de 100 reais mensais do Governo, de acordo com o plano citado. A quantia é um alívio para a família, já que o trabalho de pipoqueiro não garante a ele uma renda fixa, e a mulher não trabalha, pois passa o dia cuidando da mãe paralítica. Mas a ajuda do Governo não é suficiente, o que obriga seu Josué a trabalhar inclusive nos finais de semana, quando leva seu carrinho de pipocas à praia e à área recreativa da Lagoa Rodrigo de Freitas.

O trabalho na PUC, apesar do pouco retorno financeiro, dá a seu Josué grande liberdade. Ele chega ao serviço às três horas da tarde (“Antes disso, ninguém compra pipoca”, explica) e sai às onze da noite. O pipoqueiro gosta do fato de trabalhar sem ter um chefe, carteira assinada e hora para chegar e sair do trabalho. Ele também não reclama dos clientes, sempre simpáticos com ele, e da proximidade com o lugar onde mora. Após o fim do expediente, seu Josué guarda o carrinho atrás do Colégio Teresiano, não muito longe dali, e vai jantar em casa.

Ele não tem medo da violência. “Pra morar, qualquer lugar é bom. A violência está em todo lugar. Tem que saber é lidar com as pessoas e não mexer com ninguém, assim nada acontece com você”, opina ele. Para os novatos, ele recomenda que “sejam trabalhadores e mantenham a boca fechada, porque se dá mal quem fala demais”.

A concorrência é outro item que não intimida o pipoqueiro. Sua experiência fez frente a toda a concorrência que ele já enfrentou. Seu Josué, armado de diplomacia, já conseguiu que um jovem pipoqueiro concorrente se retirasse de sua “área de trabalho”. Ele conta que, no meio deles, há um código, segundo o qual se deve respeitar o direito, o espaço e o tempo de trabalho do vendedor, e ele tratou de lembrá-lo a seu concorrente, que prontamente saiu de sua área. Seu Josué não consegue disfarçar o sorriso de satisfação, ao acrescentar, cheio de graça, que “o concorrente não sabia fazer pipoca”.

Durante as festas de fim de ano, seu Josué trabalha direto na praia e na Lagoa, onde o movimento é grande. Quando não está fornecendo suas pipocas aos alunos e funcionários da PUC, ele faz a alegria de crianças e famílias.

O material de trabalho é comprado no Ceasa ou no Mercadão de Madureira, e os produtos finais, pipoca salgada ou doce, ele vende em saquinhos pequeno ou grande (a R$ 1 e R$ 2, respectivamente). Seu Josué gosta de trabalhar fazendo pipoca, pois, segundo ele, o material é mais leve para carregar. Seu carrinho de pipocas, diariamente fornido dos dois quilos de milho que ele leva à PUC, agradece.